
Um quarteirão inteiro está ameaçado de desabar no bairro de Paripe, no Subúrbio de Salvador. Cem casas foram condenadas pela Defesa Civil (Codesal), sendo que entre 40 e 50 delas já desmoronaram num período de 24 horas – entre o meio-dia de sexta-feira e a tarde deste sábado, 9. Não houve mortos e uma mulher se feriu sem gravidade. Segundo técnicos da Codesal que avaliaram o local pode chegar a 200 o número de casas condenadas caso as chuvas prossigam.
A explicação está no próprio solo, de massapê, que se expande com a absorção da água. Uma faixa de terra de 500 metros de extensão por 1.200 de largura deslizou, destruindo todo o sistema de esgotamento sanitário e comprometendo o abastecimento de água e de energia elétrica. “Esse tipo de terreno se expande com a água como se fosse um terremoto. É uma espécie de efeito sonrisal. A área afetada é 360 metros por 240 metros”, explicou o engenheiro da Codesal Antônio Carlos Castro, responsável pela vistoria. ”Se a chuva continuar, a situação pode se agravar”, alerta.
A Rua de Deus foi a mais atingida e colocou em risco a vizinha Rua da Bélgica, que fica abaixo. Os primeiros sinais de que algo estava errado começaram a aparecer por volta do meio-dia de sexta-feira, quando o terreno começou a se deslocar e as primeiras rachaduras apareceram nas paredes das residências.
Em pouco tempo as primeiras casas ruíram. Desesperados, os moradores deixaram suas casas levando o que podiam. Em meio à tragédia que se anunciava, uma rede de solidariedade se formou. Mesmo sob o risco iminente de desabamento, os vizinhos ajudaram uns aos outros a carregar televisões, fogões, geladeiras, móveis e objetos pessoais.
Tudo era levado para a associação de moradores. A mobilização entrou pela noite. “Sentíamos o chão mexendo sob nossos pés. Mas todos ajudaram e não deixamos que ninguém permanecesse nas casas”, relata o presidente da Associação Recreativa Beneficente Unidos da Torre. Segundo ele, apenas uma moradora teve alguns arranhões na manhã de ontem. Ela havia deixado sua casa no dia anterior e voltou para ver se conseguir recuperar mais alguma coisa quando foi surpreendida pelo desmoronamento. Ela foi levada para o Hospital João Batista Caribé.
DESABRIGADOS – Em apenas uma semana saltou de 170 para 428 o número de famílias desabrigadas em Salvador, cadastradas junto à Secretaria Municipal do Trabalho, Assistência Social e Direitos do Cidadão (Setad). O auxílio-moradia, que era de R$ 100, passa a R$ 150 a partir de amanhã. Para acolher de forma emergencial os desabrigados, a Setad preparou o abrigo da Baixa dos Sapateiros, que tem capacidade para 120 pessoas. Ontem tinham 56 moradores de rua e três famílias de desabrigados. Há ainda nove hotéis cadastrados.
Segundo o secretário da Setad, Antônio Brito, a maior parte das pessoas que perderam suas casas em Paripe optaram por ir para a casa de parentes e vizinhos. Apenas 14 pessoas contaram com o suporte da prefeitura. Uma mãe com duas crianças foram para o abrigo da Baixa dos Sapateiros e uma outra família e um rapaz solteiro ficaram na Casa do Trabalhador, em Periperi.
“Nossa preocupação é com aquelas que insistem em ficar no local”, diz o secretário. Assistentes sociais tentarão hoje convencê-los a ir para a Escola Municipal Ítalo Gaudenzi, em Fazenda Coutos, que está sendo preparada para receber desabrigados.
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