Mais de cem mil pessoas convivem com a possibilidade de terem seus imóveis desabados ou soterrados por deslizamentos de terra. O cálculo é da Coordenadoria de Defesa Civil (Codesal) que se baseia no aumento de 28% no número de encostas de alto risco em Salvador, entre os anos de 2004 e 2008.
Em 2004, a Codesal contabilizava 433 encostas com risco de deslizamento e, nesses locais, 1.070 pontos de alto risco. Em 2008, o número de áreas passou para 553 e o de pontos críticos para 2.170. Os dados deste ano ainda não foram levantados, mas o subsecretário do órgão, Osny Santos, acredita que, de 2004 até este mês, o aumento deve ser de 50%. Seriam, então, 649 áreas de alto risco, ou seja, com grandes chances de deslizamento.
Este ano, só 27 obras de encostas foram realizadas pela prefeitura. “Com as chuvas de 2009, esses números, assim como a quantidade de pessoas, devem ter crescido. Do levantamento realizado em 2004 até agora, estimamos um aumento de 50%”.
O professor de mecânica dos solos da Escola Politécnica da Ufba, João Carlos Jorge da Silva diz que a situação é alarmante. As mais de cem mil pessoas que ocupam as encostas têm baixa renda e não tem para onde ir, preferindo continuar nos imóveis condenados, como é o caso dos moradores de sete localidades visitadas.
Vítimas das chuvas, eles tiveram suas residências condenadas pela Defesa Civil, no primeiro semestre deste ano, e a situação se agravou no dia 11 deste mês, quando choveu mais do que o esperado para o mês inteiro. O problema é agravado com a falta de rede de esgotamento sanitário em diversas localidades e da presença de lixo nas encostas.
O subsecretário da Codesal afirma que o problema é antigo e há uma necessidade de fiscalização, pois Salvador tem uma topografia acidentada. “Quando chegam altos índices pluviométricos, como ocorreu no primeiro semestre e agora em outubro, o que já era uma situação de risco, se potencializa”.
No relatório final da Operação Chuva 2009, realizado pela Codesal, consta que entre os meses de março e julho ocorreram 2.648 deslizamentos de terra, que atingiu, 21.999 famílias.
Obras - As ocorrências despertaram a atenção do Ministério de Integração Nacional, que repassou à prefeitura R$ 36.384,997 para obras emergenciais. Do montante, R$ 5 milhões estão reservados para obras de contenção de encostas, mas, até ontem, apenas sete foram construídas.
Fonte: Jornal A Tarde
De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes e Infraestrutura (Setin), do valor total já foram liberados R$ 25,444,958 e R$ 2.603.126 foram utilizados em encostas.
As sete obras foram realizadas no Vale do Ogunjá, Avenida Garibaldi; Ladeira de São Caetano, Brotas e nas ruas Sargento Camargo e Maria Eulália, ambas em São Caetano. O restante está destinado para 20 obras de recuperação de canais; 22 de drenagem, canaleta e escadarias.
Segundo o secretário da Setin, Almir Melo, além das obras feitas com os recursos emergenciais, a prefeitura realizou outras 20 obras em encostas com R$ 10 milhões doados pelo Ministério da Integração.
Questionado se é possível estimar o custo de uma obra de contenção, Melo disse que não, por depender de vários fatores técnicos. Ele admite a gravidade do problema. “A questão da ocupação irregular das encostas é talvez o mais complexo de todos os desafios estruturais de Salvador”, disse.
As ocupações, conforme o secretário, se estabelecem por fatores alheios à própria cidade, como estiagens no sertão, crescimento do desemprego em todo o Nordeste, mas, também pela “inegável demanda que existe na própria cidade”, avalia ele.
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