Alexandre Peixe tem, em seu próprio nome, uma adjetivação profética. Em seu sobrenome"Peixe", bem condizente com a significação de alguém que elege somente aos seus, para formar um "grupinho" ao qual a ele, e somente a eles, os "peixes", lhes são dados o bom fortúnio de vastas regalias, é um nome profetizado e predestinado a ser, como mais uma vez se espera de uma cidade como Salvador (eternamente barroca e gregoriana), o novo modelo de Aparthaid Baiano, talvez ainda mais excludente e sofisticado, que o modelo descaradamente doloso que outrora foi usado pelo Bloco Eva, por ser legitimado e sonsamente apreciado pelos meios legais...
Ao criar o conceito de Bloco Harém, uma espécie de mitiê vip dos escolhidos, aonde somente adentram em seus cordões de gala as fêmeas (pois é com esse olhar que pela organização do bloco elas são pensadas) convidadas por critérios meramente estéticos, cria-se uma espécie de maquiados contra-sensos de subjetivos preconceitos: seja o de discriminar aquelas mulheres que não se enquadram dentro do perfil de beleza ariana (pois não vejo nenhuma mulher negra dentro do bloco), sob a arguta desculpa de que é apenas por convite, e não uma filosofia de venda maquiavelicamente eugenista de coar o "pó branco" do leite do "pó negro"do café, extensamente sabido e praticado pelo Bloco Eva no passado; seja por discriminar até mesmo a própria mulher ariana cujo perfil não se enquadra no "gosto estético" ou "econômico"deste(s) sultão(ões) de sorriso fácil que nos convence pela simpatia; ou ainda mais aprofundadamente, seja por dar uma conotação de uso, de consumo, às próprias "fêmeas", cordialmente convidadas para desfilarem em seu bloco, sendo a fundo usadas e comercializadas como "bela estamparia de bons dentes", escravas da estética do luxo, desavisadas de tal ofício, convidadas como "rebanhos de belezas" somente para agradar aos "marajás", aos homens que avidamente compram as suas mortalhas de abadás, sonhando cavalgarem com pelo menos uma das espécies deste fino rebanho (afinal, é ele quem está pagando).
E é esta mentalidade, de tratar a mulher como fêmea e a mulher negra somente como cordeira, que enojadamente dá suporte a um enorme manancial de desigualdades, regidas por energias muito antigas e tradições culturais coronelistas, que remetem desde sempre, ao provincialismo pletórico das velhas mentes da velha Bahia. Quando isso irá mudar? Talvez fosse mais adequado perguntar: até quando a tolerância de nossas conveniências vai conseguir nos suportar? Resposta: sabe porque um bloco como o Harém deu tão certo? É porque todos nós temos, em nosso íntimo, elementos de desconcertante adoração hipnótica pelo que nos é apresentado, a superficial ilusão egóica da beleza, a ponto de os fins justificarem os meios. Então, cegos ficamos com as injustiças, mas só até que a mesma (injustiça) ocorra conosco, ou com alguém ligado a nós. Aí sim, sentimos como se fossemos como mais uma daquelas mulheres excluidas do belo sorriso de Peixe, e assim, excluídos de nós mesmos, de nossa dignidade, simplesmente por termos confiado por tempo demais aquilo que de melhor possuímos a quem não nos mereceu jamais: a nossa Dignidade.
Arthur Gustavo Baptista Ribeiro
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