EMAA - Educação, Meio Ambiente e Administração: Com salários atrasados, terceirizados param e colégios estaduais suspendem aulas

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terça-feira, 28 de julho de 2009

Com salários atrasados, terceirizados param e colégios estaduais suspendem aulas

Além de várias escolas municipais, colégios da rede estadual de ensino também estão com as aulas prejudicadas devido à greve dos trabalhadores terceirizados. Funcionários da limpeza, merendeiras, auxiliares de disciplina e administrativo, sem salário, vale-transporte e tíquete-refeição há quase cinco meses, paralisaram as atividades. O desfalque do corpo administrativo e a higiene precária tem levado diretores e professores a tomar atitudes como suspender aulas ou propor rodízios.
No Instituto Central de Educação Isaías Alves (Iceia), no Barbalho, as aulas foram suspensas desde quinta-feira da semana passada. Na sexta, a Secretaria de Educação do Estado (SEC) enviou uma equipe para limpar a escola. “Foi uma maquiagem no banheiro e nas salas”, desabafa o professor de História Lázaro Nazareth.
Em reunião, professores e líderes estudantis do matutino decidiram suspender as aulas até que a situação se normalize. “Educação não combina com sujeira”, sentenciou o professor Oduvaldo Bento, que também é diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação - APLB Bahia. Durante a paralisação, serão desenvolvidas ações, como enviar ao Ministério Público manifesto e abaixo-assinado denunciando a situação dos terceirizados e encaminhamento de ofícios à SEC pedindo normalização dos pagamentos e relatando a insuficiência de funcionários e falta de professores.Os professores contam que dos quase 40 trabalhadores da limpeza o quadro funcional se reduziu a 10. Nesta segunda, metade da equipe foi à escola bater o ponto, mas não trabalhou. Temendo represálias, não se identificaram, mas relataram as penúrias pelas quais estão passando. “Cortaram a água e a luz de minha casa.
O aluguel está atrasado”, disse uma trabalhadora. “Fiz empréstimo na Losango para comprar uma TV. Não sei como vai ficar”, acrescentou outra.“A situação está triste e difícil. Eles cedem o saco e nós catamos o lixo na sala. Peço aos colegas para não jogar lixo no chão. Mas o banheiro não tem condição.
Fica fedendo demais”, comenta Odília Matos, aluna do curso de formação de professores. Sua colega Ângela Dias, 29 anos, contabiliza prejuízos com os dias sem aula. Ela sai de Cajazeiras X às 5h da manhã, pega dois ônibus para chegar ao Barbalho e dois para retornar. Gasta R$4,40 por dia com transporte e três horas na locomoção. “Se soubesse não tinha vindo”, disse, desolada, ao saber que não teria aula.Rodízio - No Colégio Estadual Senhor do Bonfim, nos Barris, a situação se tornou insustentável e levou a direção, na manhã desta segunda, a definir que as aulas se darão em sistema de rodízio nos turnos matutino e vespertino. Como à noite os alunos são adultos e há funcionários efetivos, as aulas serão ministradas normalmente.
A diretora Andréia Sarraf explica que são três funcionários de limpeza e oito auxiliares de disciplina e administrativos parados. Do quadro efetivo são apenas dois trabalhadores pela manhã e um à tarde, sendo que um em cada turno trabalha como porteiro - para dar conta de 1,5 mil alunos nos dois turnos e um prédio de três pavimentos.“Espero que volte ao normal o mais rápido possível, até porque está difícil assim”, aguarda a diretora. “Estávamos dando cestas básicas e dinheiro do transporte para os terceirizados. Mas a situação ficou insustentável”, esclarece. Para não paralisar totalmente as aulas, a opção foi estabelecer o rodízio. Um dia terão aulas os estudantes do 1º ano; no outro, os do 2º e 3º. Os alunos se sentem prejudicados, mas aprovam a medida. “É melhor do que ficar parado. Não adianta só estudar em casa. Com quem vou tirar dúvida? Na internet?”, opina Vitor Melgaço, 17, que se prepara para o vestibular e para o Enem. Ele elogia o corpo docente, mas teme que esses problemas o tornem um “ocupa vaga”. “Vou lá (Enem) fazer prova sem saber nada. Só ocupar vaga”, explica. Sua colega de sala, Manoela Maia, 16 anos, concorda, mas demonstra apoio aos grevistas. “Eles têm razão. Não dá para trabalhar sem receber”, diz.
No Colégio Estadual Evaristo Veiga, na Garibaldi, a diretora diz que as aulas foram suspensas apenas três dias na semana passada, no turno vespertino, quando estudam os alunos do ensino fundamental - cerca de 600 do total de 1,5 mil alunos da escola. “Não houve prejuízo porque aproveitamos para antecipar o conselho de classe e outras atividades que exigiriam suspender as aulas”, afirmou a diretora Daniela Lordelo.Itana Aiala, 15 anos, aluna da oitava série da Escola Úrsula Catharino, no Politeama, diz que suas aulas não foram suspensas, mas estão terminando mais cedo porque não tem merenda. Ao invés de acabar às 11h45, como costume, os alunos são dispensados às 10h40.
“A merenda não é nenhuma ‘coca-cola’, mas diferencia”, reclama a garota. Para ela, essas horas perdidas seriam importantes para reforçar o conteúdo para as avaliações.Protesto - Na manhã desta segunda, cerca de 300 dos 3,6 mil grevistas foram, às 7h, para a frente do Palácio de Ondina “tomar café com o governador”. Segundo Edvaldo Rocha, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza (Sindilimp), a categoria foi impedida de subir por policiais da Casa Civil.“O governador mandou dizer que não poderia nos receber porque tinha compromisso. Falamos por telefone com a primeira-dama que já tinha saído”, conta Rocha. Como saldo da iniciativa, houve a solicitação por parte do governador do envio de uma lista com o nome das empresas devedoras.
Uma assembleia da categoria está marcada para às 7h desta terça, na sede do Sindlimp, na Sete Portas.Também nesta terça, haverá uma reunião do Governo do Estado com as empresas terceirizadas. Segundo o secretário de Educação, Adeum Sauer, os repasses foram feitos até o mês de abril. A quantia referente a maio tem um prazo até sexta-feira e na próxima semana as empresas receberão o valor referente a junho, normalizando os repasses a partir de agosto.
De acordo com o secretário, uma cláusula contratual prevê que as empresas deveriam ter capacidade de arcar com o pagamento dos funcionários se houver atraso no repasse do governo por até quatro meses. “O que descobrimos agora é que elas não têm esse fôlego. Suportam apenas 45 dias”, disse Sauer. Segundo ele, será feito um gerenciamento nos contratos, inclusive, para verificar a quantidade de funcionários disponibilizados para cada estabelecimento de ensino.“Vamos estudar que medidas adotar. Nos faculta até a suspensão do contrato, o que pode acontecer para aquelas que não tiverem condição”, adverte o secretário.

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