EMAA - Educação, Meio Ambiente e Administração: Shows e trios são risco para o Farol da Barra

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domingo, 5 de julho de 2009

Shows e trios são risco para o Farol da Barra


Construção secular datada de 1534, patrimônio histórico e cultural brasileiro e ícone de Salvador, o Forte de Santo Antônio da Barra, ou Farol da Barra, como é mais conhecido, está com fissuras na sua estrutura física. O problema é visto com preocupação por especialistas na conservação de construções históricas.

Uma análise do problema vem sendo feita por estudiosos da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e, mesmo sem um diagnóstico final, o arquiteto Mário Mendonça de Oliveira, professor do Programa de Pós-Graduação de Arquitetura e Urbanismo da Ufba, adverte que o problema pode ser agravado, tanto pela exposição às intempéries como pelas vibrações provocadas pelos altos decibéis de trios elétricos e shows como o ocorrido no último dia 2 de julho, da cantora Claudia Leitte.

“Trinca é um sinal de patologia. É um doente e, como tal, não deve se expor a determinadas atividades que possam afetar sua saúde”, compara o renomado estudioso, autor da obra de referência As Fortificações Portuguesas de Salvador quando Cabeças do Brasil (2004).

Para ele, “o monumento não pode ficar daquele jeito. Primeiro, deve se resolver o problema para, somente depois, haver shows, porque há implicações, pode acelerar o processo das trincas”, recomenda Oliveira.

Para a inevitável pergunta: vai cair?, o professor Oliveira tem uma resposta em forma de analogia: “É como dizer, não tome chuva porque você pode ficar gripado... A pessoa pode ir para a chuva e não adoecer, porém o que deve prevalecer é o bom senso. Não tem por que se expor ao desastre, se é possível prevenir”.

Estruturas metálicas, de madeira ou concreto, por exemplo, possuem uma elasticidade que suporta melhor as vibrações. O que não é o caso do Forte de Santo Antônio da Barra, feito em alvenaria de pedra com argamassa de cal, com cantos de portados e cantarias – materiais menos resistentes às vibrações.

“Neste caso, se tem trinca, fissura, rachadura, a vibração pode fazer aumentar”, aponta o arquiteto. Ele ressalta que os altos decibéis, por si só, não seriam capazes de causar o dano, mas uma vez estes existindo, as vibrações do som alto podem potencializar o problema estrutural.

Mesmo com outros fortes na cidade com maior comprometimento, e o quadro no Farol da Barra ainda não ser considerado crítico, segundo a equipe da universidade há um alerta para a necessidade de uma ação imediata para evitar danos maiores.

Inspeção – O problema foi identificado há seis meses pelos administradores do forte, sob a tutela da Marinha brasileira, que solicitaram da Ufba uma inspeção, a cargo do professor Oliveira e da colega Tatiana Dumet.

A fissura mais acentuada está no cunhal (ângulo ou quina) do lado esquerdo do fundo da edificação (para quem está de frente para o prédio), formado com cantaria (pedra talhada) aparente. No cunhal direito também há rachaduras, porém menos acentuadas. A inspeção foi realizada há 180 dias e o laudo final ainda não foi emitido. No entanto, algumas possíveis causas para o dano são apontadas pelo professor, que leciona a disciplina tecnologia e restauração, sobre materiais e estruturas.

Aparentemente, a causa das fissuras tem relação com o local onde está encravado o monumento, que possui uma parte rochosa com solo em cima. Uma hipótese seria uma erosão forte provocada pelas águas pluviais, que se estariam infiltrando até a rocha. O solo poderia estar sofrendo lixiviação, que é a perda de material por dissolução: a água passa e leva a argila, desestabilizando o solo. Com a lixiviação, podem ocorrer depressões e, com isso, pequenos deslocamentos, que podem estar afetando o baluarte da edificação.

Foi recomendada uma sondagem do solo, feita por empresa privada. Segundo a professora Tatiana Dumet, o relatório está sendo aguardado para que, a partir dele, seja consolidada a avaliação conclusiva. Enquanto o trabalho final não é feito – e uma solução apontada e executada – Mário Mendonça de Oliveira teme que o impacto de fortes vibrações possa piorar o problema, ainda que, ele tranquiliza, não haja indício de queda imediata da edificação.

Marinha – As fissuras são vistas de forma mais tranquila pela administração do Forte Santo Antônio da Barra, responsabilidade da Marinha. “Não tem problema. Fazemos manutenção constante e notamos uma folga maior (entre as pedras). Pedimos a vistoria por precaução, porque o local recebe chuva, sol, umidade do mar. Não se trata de uma fissura, mas de um embrechamento”, disse a A TARDE o comandante Reuben Bello Costa, administrador do forte da Barra. Ele, entretanto, admite que ainda não tem um diagnóstico preciso, que só será possível com a conclusão do relatório.

* Colaborou Luiz Lasserre A TARDE

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